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Por Álef Mendes: 1964 foi o ano de uma grande enchente em Araçagi

O ano era 1964. Na cidade de Araçagi no estado da Paraíba (uma cidade ainda bem pequena e recém emancipada na época) chuvas intensas inundaram as ruas, e assim vários moradores ficaram assombrados, desabrigados e com poucas perspectivas para os dias que se seguiram. O ano de 1964, no então século XX, foi um ano bom para as lavouras e as plantações de muitos araçagienses se enverdeceram.

Era de costume na região se plantar nos primeiros meses do ano para se colher no mês de junho e assim poder comer milho assado na fogueira de São João e neste ano não foi muito diferente e as esperanças de muitos agricultores aumentavam diariamente.

Ainda no mês de janeiro com as primeiras chuvas de 1964 grande parte dos araçagienses que viviam da agricultura se animaram e alguns ficaram tão animados que cortaram através de maquinários ou limparam os seus pedaços de terra, seja que fossem de suas posses, arrendadas ou cedidas para se plantar capim no final da colheita e, desse modo, produzirem mantimentos para grande parte do ano. Aqueles eram dias bons de chuva para as lavouras, todavia, não se esperava maiores danos ou qualquer desastre, porém que fosse um ano normal como foram vários outros anteriores.

É viável, que o rio de Araçagi, nos séculos passados ou até mesmo anterior a chegada dos europeus como portugueses, franceses e holandeses nos quais os indígenas dominavam a região aconteciam enchentes na localidade em que se construiu a cidade, pois os potiguaras a chamavam de ARAÇAY que em tupi significa lugar de muitas águas e araçás (fruto de olhos pequenos).

Mesmo assim, no ano de 1964 pouco ou até nada se conhecia sobre essas questões passadas. O mês de fevereiro chegou e os agricultores se alegravam cada vez mais. Nas ruas da cidade que foram formadas até pouco tempo naquele momento da história, como a exemplo da rua denominada de Pedro Batista e conhecida por muitos como Rua Grande, os pequenos comércios funcionavam bem e nas ruas crianças brincavam à noite sobre o cuidado de seus pais. Na igreja católica as missas eram anunciadas e realizadas, isso fruto de um povo ainda, expressamente, de fé católica.

Pelos meses de março e abril a grande maioria que não tinha preparado a terra anteriormente prepararam os seus roçados e resolveram plantar para “comer verde” (feijão verde e milho), exatamente, na data de comemoração do São João. Os dias que se seguiram os agricultores acordavam com seus dias mais alegres, pois o milho, o feijão e a fava despontavam da terra e cresciam saudáveis. É verdade que muitos, principalmente, da zona rural ainda usavam iluminação de candeeiro.

Já em maio muitas lavouras floravam e algumas plantas já davam as primeiras bajes e o milho já estava perto de dar as primeiras “bonecas nas espigas”, ainda no finalzinho deste mês. No entanto, aproximadamente próximo do 24 de junho fortes chuvas atingiram a região em volta da cidade de Araçagi e na própria cidade, e nos dias que se seguiram o sol raivava pouco por causa das fortes nuvens que cobriam tal povoamento e região.

No finalzinho do mês de junho as chuvas intensas começavam, o céu coberto pelas nuvens cheias de água, os raios e trovões colocavam medo e a chuva era intensa dia e noite, maneirando um pouco, porém logo caindo mais chuvas fortes em um período de mais ou menos 25 dias.

O interessante é que as chuvas fortes não atingiram somente Araçagi, como também os municípios acima os quais o rio que passa por trás da igreja matriz recebe às águas dos rios que vêm dos povoamentos que circundam Guarabira e localidades acima e após a ponte que sobe para a atual cidade de Pirpirituba. Foi tanta água que as ruas ficaram completamente alagadas, como vemos nas fotos a seguir tiradas no momento da grande enchente.

Nas imagens acima podemos perceber várias características físicas da cidade recém emancipada. Na reprodução que tem um homem que observa a pessoa a qual está realizando o registro fotográfico ou mesmo abismado com o objeto de registrar fotos que naquele momento raramente se via; podemos ver que as casas tinham uma arquitetura que buscava trazer à memória o padrão arquitetônico colonial. As árvores incorporadas ao aspecto da rua e água, possivelmente, barrenta quase pela cintura do cidadão.

Na outra foto que está ao lado percebemos as moradias com quase as mesmas expressões da arquitetura; pessoas um pouco distante do fotógrafo e, aparentemente, uma jovem de costas, blusa e saia e num local ou momento em que as águas estavam na canela. Essas fotografias são da rua Pedro Batista ainda no período do alagamento. A força do rio Araçagi naqueles dias foi tão intensa que metade do cemitério e casas da região mais aproximada ao rio foram levadas pela correnteza.

Nestas imagens acima podemos compreender como ficou a situação do povo araçagiense após baixar o nível das águas, principalmente, os mais ribeirinhos que foram mais afetados e os que moravam nas regiões rurais os quais precisavam passar pelo rio para ter acesso à cidade e áreas circunvizinhas. Na foto da rua Pedro Batista cheia de lama com o baixar das águas vemos nas casas de frente como se fossem marcas do limite que as águas alcançaram; rua vazia de pessoas à frente da câmera, e deduzimos que somente o fotógrafo estava nela; a rua cheia de lama e como se fossem móveis colocados para fora.

Na outra imagem são duas canoas que ficavam para o povo atravessar o rio, numa está um homem com um chapéu grande e matas por trás dele e na outra 11 pessoas, aparentemente, do sexo masculino, algumas com chapéus, e o remador sendo o que fica na parte de trás. Logo após as chuvas fortes as águas baixaram deixando ruas repletas de lama; a cidade sem iluminação etc. Um verdadeiro caos estava instaurado naquele momento. A própria obtenção do pão diário foi impactado, por causa do estado de calamidade que ficou nas ruas e a mentalidade do povo ficou aterrorizada. A população mais pobre foi a que mais sofreu neste momento da história de Araçagi.

O setor econômico da cidade demoraria um certo período para melhorar e o medo de que ocorresse outras cheias como esta, ficou nas pessoas, e era evidente a cada chuva forte que viesse nos anos seguintes. Esta acabou sendo a maior cheia que ficou na memória dos cidadãos mais antigos desta cidade e até hoje os mais novos relatam o que ouviam de seus parentes que passaram por este desastre. Segundo depoimentos de moradores mais antigos, a enchente relatada acima, foi a maior na história Araçagiense, ocorreu no ano de 1964 em períodos de invernos (LEITE, 2016, p. 22).

 

Referencia

LEITE, Analine da Silva. Degradação Ambiental no Perímetro urbano do rio Araçagi/PB, Afluente da bacia hidrográfica do Mamanguape. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia ) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Humanidades, 2016.

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