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Por Thainá Dantas: Quem é a Cracolândia?

Quando teremos uma “Cracolândia” para chamar de nossa? - Alexandre Queiroz Pereira - Diário do NordesteCerto dia, ouvi de um usuário de crack que a cracolândia não é um lugar e sim um grupo de pessoas. Apoiado numa voz carregada de indignação, ele sustentava que a tentativa de dispersar essas pessoas de espaços físicos, não excluía a existência delas. Fiquei dias refletindo essa fala e a profundidade que ela alcançou dentro mim. Afinal, quem é a cracolândia?

O trabalho voluntário no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas me permitiu conhecer esse lugar nomeado como cracolândia. A cracolândia tem nome, tem profissão, tem família, tem sonhos. A cracolândia é gente. Gente que tem fome de cuidado e sede de liberdade. Gente que é prisioneira da história que traçaram para eles. Gente que é pra brilhar, mas morre apagada, como se nunca tivesse existido.

Nós que somos diferentes dessa gente, soterrados em privilégios que nos impedem de enxergar qualquer coisa além do nosso próprio umbigo. Nós que somos semelhantes a essa gente, frágeis e desamparados em nossa própria existência. A cracolândia é feita da gente e não de gente, dentro desse lugar tem um pouco de todos nós e é preciso olhar para essa ferida a céu aberto.

Ignorar o que há de feio dentro de nós, não apaga do que somos feitos. Desconhecer a cracolândia, não apaga nossa responsabilidade sobre ela. A beleza e o horror andam de mãos dadas, é impossível que um exista sem o outro. A riqueza precisa da miséria pra existir. Para que eu seja isso, preciso que eles sejam aquilo, a cracolândia.

A cracolândia é sintoma, é a angustia de uma sociedade adoecida. É a agonia de uma gente que ri quando deve chorar e que não vive, apenas aguenta.

(Sobre os despejos das pessoas em situação de rua que formam a cracolândia)

 

Thainá Dantas é Advogada, graduanda em Psicologia e pós-graduanda em Psicologia Clínica: Orientação Psicanalítica.

*Este texto reflete, inteiramente, a opinião da autora. 

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