Em depoimento à polícia, adolescente narra, com frieza, como atirou em toda sua família na cidade de Patos
O ClickPB teve acesso, com exclusividade, ao depoimento do adolescente acusado de matar mãe e irmão mais novo e balear o pai na cidade de Patos no último sábado (19). Logo após o crime, o adolescente acabou confessando toda a situação para o delegado e foi apreendido logo em seguida.
O adolescente narrou com frieza toda a situação e cada passo que deu durante a execução do crime. Ele respondeu a todas as perguntas feitas pelas autoridades policiais sem titubear nem demonstrar incertezas, como acompanhou o ClickPB. A voz do adolescente, que tem 13 anos de idade, só falou quando ele disse pela primeira vez: “aí eu dei um tiro na minha mãe”.
Inicialmente, o caso estava sendo tratado como uma situação de latrocínio. No entanto, o próprio adolescente confessou toda a situação e contou como tinha executado o crime.
De acordo com o depoimento prestado, logo após ter matado a sua mãe que estava deitada na cama, baleado o pai que chegou até a porta do quarto e matado o irmão mais novo, de 7 anos de idade, que se jogou em cima do pai assustado, o adolescente ligou para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Ele disse que viu que o pai estava vivo e ainda conversou com ele após o crime.
O adolescente narrou que primeiro deu um tiro em sua mãe. Depois disso, o irmão foi até onde ele estava e, assustado, ficou correndo e gritando. Depois, o seu pai chegou e o segundo tiro foi efetuado. Depois de ver o pai caído ao chão, o irmão mais novo se jogou por cima dele e recebeu o terceiro tiro desferido pelo adolescente.
A justificativa dada pelo adolescente que teria motivado o crime foi o fato de que os pais o pressionariam demais para tirar boas notas na escola e o reprimiam com castigos, como tirar o acesso ao celular.
Confira a transcrição completa do depoimento do adolescente prestado às autoridades policiais:
– Qual tua idade?
13 anos.
– Me diz aí o que foi que aconteceu hoje na tua casa. E qual foi o motivo. Pode falar com suas palavras.
Eu tinha entregado o celular da minha mãe para o meu irmão. Ele estava lá no meu meu quarto.
– Tu entregou o celular porque?
Para ele ficar lá no celular.
– Onde ele ficou no celular?
No meu quarto.
– Aí depois o que foi que aconteceu?
Aí eu dei um tiro na minha mãe.
– Tu pegou a arma onde?
No mesmo lugar que meu pai guardava.
– Aí tu pegou naquele armariozinho de ferro. E tua mãe tava onde?
Ela tava na cama. Deitada. Tava quase dormindo.
– Aí como foi que você fez? Chegou junto dela? Encostou a arma na cabeça dela?
Aí eu dei um tiro.
– Quantos tiros tu deste?
Só um.
– E depois, o que foi que aconteceu?
Depois aí eu fui atrás de Gabriel. Aí ele ficou correndo.
– Gabriel se assustou e ficou correndo com o seu celular?
É. Ele ficou correndo e gritando por mamãe. Aí depois papai chegou. Aí eu dei um tiro em papai e depois em Gabriel.
– Tu deste um tiro em seu pai, tu tava onde quando deu o tiro no seu pai?
Tava no quarto. E depois…
– Tu tava dentro do quarto de sua mãe e seu pai e ele tava na sala. Aí quando ele chegou tu atiraste em teu pai?
Sim.
– E Gabriel tava onde?
Gabriel depois que viu papai no chão, ele foi pra cima dele, abraçou ele.
– Aí tu atiraste?
Sim.
– Quando tu atirou em Gabriel, Gabriel tava abraçado com seu pai?
Tava. Tava em cima dele assim.
– Então tu atirou nas costas de Gabriel?
Sim.
– Aí Gabriel caiu e aí depois que tu atirou em Gabriel, o que tu fez?
Aí eu percebi que meu pai tava vivo, que ele tava falando.
– E o que teu pai tava falando?
Tava falando. Antes de eu dar um tiro ele falou: “solte essa arma”, e tal, “jogue essa arma no mato”. Aí depois que eu dei um tiro que ele tava lá, aí ele falou. Ele perguntou porque que eu fiz isso. Aí eu respondi. Por causa que eles viviam me pressionando por causa de nota. Porque eles não me deixavam praticar as outras atividades, não deixavam eu fazer quase nada e eu me sentia pressionado com isso.
– Eles batiam em você?
Sim. Às vezes sim. Quando eu tirava nota baixa já era motivo de eu apanhar ou ficar muito tempo… Já cheguei a ficar semana… muitas vezes só no sábado pra eu me comunicar com meus amigos.
– Eu tô entendendo. E como era essa pisa que eles davam?
Era de cinto.
– Quem batia mais em você, sua mãe ou seu pai?
Minha mãe.
– E Gabriel apanhava também deles ou não?
Sim.
– Aí depois que você atirou em Gabriel, você fez o que com a arma?
Botei de volta no lugar.
– Tinha uma munição dentro do banheiro. Que não estava disparada. Você entrou no banheiro primeiro, antes de disparar em sua mãe com a arma?
Qual banheiro?
– O banheiro do quarto de sua mãe.
Sim, eu entrei no banheiro.
– Antes ou depois de atirar?
Depois de atirar na minha mãe.
– Você deu um golpe na arma? Aí caiu a munição inteira?
Foi. Uma munição inteira. Só ficou uma balinha.
– Aí quando você atirou no seu pai você tava atrás da cama?
Não. Eu tava na frente da cama.
– E sua mãe do seu lado, nas suas costas.
É. Eu tava olhando pra ela e disparei.
– Aí quando isso aconteceu, quem foi que ligou pro SAMU? Foi você mesmo?
Foi.
– Chegou mais alguém? Mais algum vizinho na casa? Depois que escutou o barulho?
Não chegou ninguém. Só depois que a polícia chegou.
– Com quanto tempo o SAMU chegou? Tu recorda?
Não lembro não.
– Mas foi rápido que eles chegaram?
Foi rápido.
– Essas marcas aí em você, no seu braço, quem fez isso?
Não sei. Não estou lembrado agora.
– Foi alguma agressão da sua mãe ou do seu pai?
Não, acho que foi Gabriel mesmo. Porque ele gosta muito de me provocar.
– Você se autolesionava?
Não.
– Quem foi que apertou o seu pescoço?
Acho que Gabriel. Ele tentou pegar aqui.
– Foi depois do tiro ou foi antes?
Sim, foi depois do tiro.
– Então quer dizer que essa marca no seu braço e essa marca no seu pescoço foi Gabriel que fez? Depois que você atirou na sua mãe.
Sim.
– Depois que você atirou na sua mãe demorou para o seu pai chegar?
Demorou um pouco. Mas ele chegou.
– Aí ele chegou e viu e foi quando você fez o que me contou agora, né?
É.
– Nesses últimos dias você tinha sido colocado de castigo?
Eu tava sendo muito ameaçado com isso. Já tinham tirado o meu celular várias e várias vezes.
– Quando foi que tiraram o teu celular, a última vez?
Quando meu pai tinha saído para comprar remédio.
– Hoje. Ele tirou seu celular hoje?
Sim.
– Mas você não disse que entregou para Gabriel?
O celular da minha mãe.
– O seu tá onde, o seu celular?
Tava no bolso da calça do meu pai, eu acho.
– Então ele saiu para comprar o remédio…
E foi com meu celular.
– E aí então aconteceu tudo isso. Tá bom.
Da redação com ClickPB