Esportes

Jogos suspeitos de manipulação devem bater recorde em 2022

O número de jogos suspeitos de manipulação de resultados em 2022 deve passar de mil casos, pela primeira vez na história. Mais de 670 partidas do tipo já foram identificadas pela empresa Sportradar até o dia 1 de agosto — sendo 400 apenas no futebol. Apesar da baixa probabilidade disso acontecer na Copa do Mundo, especialistas alertam para as tentativas de aliciamento de jogadores nos próximos meses.

Empresa especializada em integridade competitiva e monitoramento de apostas, além de colaboradora da Fifa, a Sportradar levantou 903 jogos duvidosos em 2021, de 10 esportes diferentes e em 76 países. Recorde em 17 anos de acompanhamento, que deve ser superado em 2022.

Cinco jogos suspeitos do ano passado envolveram seleções adultas. O problema da manipulação ainda é visto como em ascensão, com o futebol como principal cenário. Desde 2010, a Sportradar classificou 100 jogos de seleções como suspeitos.

— A Copa do Mundo é o torneio mais importante do mundo do futebol, o que faz o risco ser naturalmente menor. É o ponto alto da carreira de atletas, a exposição mundial é vasta. Isso significa que atletas envolvidos estão menos propensos a manipular o curso ou o resultado de um jogo — afirmou Tom Walshe, executivo de comunicação da Sportradar, em entrevista ao ge, por e-mail.

Além da importância e da visibilidade da Copa, jogadores que estarão no Catar gozam de base financeira sólida, no geral, o que diminui os riscos de se engajarem em atividades de corrupção, segundo especialistas. Só que os ganhos potencialmente altos devem levar manipuladores a agir.

”A ameaça continua, no entanto, com a certeza de que os manipuladores de resultados tentarão abordar os jogadores que vão participar da Copa do Mundo nos meses que antecedem o torneio.” — Tom Walshe, executivo de comunicação da Sportradar

Questionada pelo ge sobre que medidas já foram ou vão ser tomadas a respeito do tema, a Fifa diz que ainda vai implementar uma abordagem sobre a Copa do Mundo de 2022, com mais detalhes no futuro.

A Fifa garante adotar a política de zero tolerância contra todas as formas de corrupção no futebol e assegura aplicar várias medidas para prevenir e atender a situações de risco, enquanto monitora padrões suspeitos.

Os casos mais recentes registrados pela entidade são de 2020. Boniface Mwamelo, de Zâmbia, foi banido por 15 anos e multado em 10 mil francos suíços; e Sidio Jose Mugadza, de Moçambique, foi banido do futebol por sete anos. Eles estiveram envolvidos em conspirações de torneios de base. Há casos ocorridos em eliminatórias para a Copa.

Em 2014, o então chefe de Segurança da Fifa, Ralf Mutschke, denunciou a tentativa de assédio de árbitros e jogadores por parte de criminosos que tentavam manipular resultados na Copa do Mundo no Brasil.

Parceria com a ONU

Terminou no fim de junho o Programa Global de Integridade, parceria da Fifa com o Escritório da Organização das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). Ele foi desenhado para funcionar nas 211 associações e seis confederações. Segundo o UNODC, mais de 400 representantes de governos e federações participaram de 29 oficinas, desde março de 2021.

Presidente da Fifa, Gianni Infantino, com a diretora executiva da UNODC, Ghada Waly — Foto: Getty Images

— O UNODC está atualmente explorando a possibilidade de desenvolver eventos de conscientização para funcionários de governos que estão participando da Copa do Mundo, e também está discutindo ativamente com a Fifa possíveis ações que podem ser tomadas durante a Copa de 2022 — afirmou a área anticorrupção do escritório da ONU.

O último relatório do UNODC sobre corrupção no esporte alertou para a ligação entre manipulação de resultados, apostas ilegais e o crime organizado internacional. Entre as possíveis respostas estão a atualização de leis, o desenvolvimento de políticas anticorrupção e o estabelecimento de órgãos específicos e independentes para lidar com os casos.

— Em muitos países, apostas online se tornaram legalizadas, o que requer monitoramento apropriado e prevenção fortalecida. O Catar trabalhou com todas as agências parceiras para incorporar as melhores práticas no combate a esse problema — comentou Dale Sheehan, diretor de Capacitação e Educação Executiva da organização não-governamental independente Centro Internacional de Segurança no Esporte (ICSS).

Fonte: Ge

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