Por Alan Santos: Saudosismo do bem
Hoje amanheci saudosista. Pode ser neuras de fim de ano, mas, sempre nesse período, em minha caixa cerebral, um filme do ano que se finda, passa constantemente através da tela dos meu olhos com sons nítidos em meus ouvidos, dos momentos de minha vida passados no decorrer do ano e de tempo pretérito que não volta mais.
Saudosista dos tempos dos cartões de natal inscritos sob letras garrafais ou não garrafais, caligrafias bem desenhadas ou não desenhadas, enfim, cartões que traziam bons desejos de um ano próspero. Como não lembrar dos cartões musicais. Ah! Era só abrir e ali estava a tocar pequenos trechos de músicas natalinas. Como não lembrar dos cartões artesanais confeccionados pela esposa de João da Paris, cartões detalhados e caprichados que viraram febre.
A minha caixa cerebral ainda me remete ao gosto do refrigerante bem geladinho que, eu, meu pai e minha mãe degustávamos antes da missa. A Lanchonete Paris sempre estava cheia de pessoas a conversar e partilhar esperanças.
Fim de ano era momento para inaugurar roupas novas, sejam elas compradas ou feitas na costureira. Vestir a calça jeans da marca do raio era sensacional. As ruas cheiravam a Gellus, Topazio e Alfazema. O som rouco do mega fone do parque de Bajola embalava o balanço das canoas que tocavam o céu. Sim, tenho apenas 37 anos viu.
Lembrança das tradicionais fotos no presépio da matriz. Se a foto fosse tirada com Mineiro, deveria rezar para o Menino Deus para prestar. Já participar da missa do Natal sempre foi uma aventura, pois entender o que Maria de Celina cantava e o que o padre falava, dependia da trégua do chiado do som. Mas ouvir o sino da matriz. Ah o sino! Que estrondo! Que som! Me remetia a Belém do presépio.
Saudosismo dos familiares que lotavam as casas vindos de diversos estados do país, com os mais diversos sotaques adotados e outros misturados, mas um cheiro de tempo único e diferente. Saudosista dos presentes que de praxe, os tios e tias, faziam questão de trazer.
Tempo bom do pirão na casa de vó, do pudim de ano novo na casa da tia, da família reunida.
Espírito natalino? Pode ser. Mas é um saudosismo do bem.