ColunistasJefferson Procópio

Por Jefferson Procópio – Entre altos e baixos: os 100 dias de Lula III

Os primeiros cem dias do terceiro mandato do presidente Lula, foram marcados por adversidades profundas em relação à gestão anterior, de Jair Bolsonaro. O petista restabeleceu um diálogo mais harmônico entre os Poderes, retirou militares de cargos civis, resgatou o multilateralismo na relação exterior, aplicou uma norma mais rígida sobre armas e passou a valorizar a vacinação e a reservas ambientais, em sua maioria.

Entretanto, esse início de governo também teve algumas semelhanças com o início da gestão anterior, sobretudo no enfrentamento relacional. Apesar de estilos antagônicos, ambos os presidentes completaram cem dias sem formar uma base de apoio no Congresso ou conseguir a aprovação da maioria dos brasileiros. Outra semelhança foram as polêmicas iniciais com ministros.

Lula III – O início

Após um triunfo acirrado, o governo Lula iniciou numa tensão inédita de ameaças de ataques por parte de apoiadores mais radicais do ex-presidente, que terminaram na invasão e depredação do Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal no dia 8 de janeiro. O fato gerou um forte alinhamento entre os três Poderes em repúdio ao golpe e marcou ainda mais a distinção entre os dois presidentes.

A nomeação de indicados do Centrão — grupo de partidos que costuma trocar apoio por verbas e cargos, independentemente de qual seja o governo — não garantiu, até o momento, apoio político, mas rendeu desgastes para o governo Lula desde cedo.

Na economia, o início de Lula traz grandes diferenças em relação ao começo de Bolsonaro. Sai o discurso a favor de privatizações e de menos impostos, e entra a defesa de mais gastos em favor da sociedade e por mais tributações.

A gestão anterior acabou abandonando em parte o discurso da transparência fiscal, seja devido aos gastos para enfrentar a pandemia de coronavírus, seja por elevar benefícios sociais no ano eleitoral. A gestão Lula, já assumiu com o propósito claro de substituir o Teto de Gastos (Arcabouço Fiscal) por novas leis para o gasto público, que permita cumprir a promessa eleitoral de mais recursos para serviços públicos e investimentos.

No quesito multilateralismo, em seu primeiro tour internacional, visitou dois países vizinhos governados por diferentes espectros ideológicos: Argentina, do esquerdista Alberto Fernández, e Uruguai, do direitista Luis Lacalle Pou. Em fevereiro, foi aos Estados Unidos, agora, segue na China.

Apesar das muitas diferenças, Lula repete Bolsonaro ao completar cem dias com dificuldades para conquistar uma popularidade efetiva. A formulação de um novo arcabouço fiscal e avanço em políticas públicas nos próximos três meses podem ser pontos positivos; todavia, um clima tenso com o Banco Central e falas atrapalhadas prejudicaram alguns investidores e poderão causar mais inflação.

Os próximos meses serão desafiadores, como era previsto ao fim de 2022. Caberá ao presidente lembrar que o seu terceiro mandato enfrentará uma polarização jamais vista e, cada passo errado, poderá inflamar mais ainda seu tão conturbado começo.

 

Escritos de Jefferson Procópio – Direito com extensão em Ciência Política e gestão pública

 

Da Redação / Página PB

Compartilhe este conteúdo!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *