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Por Alan Santos: A festa, o pavilhão e o galeto

Quando chega o mês de fevereiro um certo saudosismo me aflora, assim como o cheiro de terra molhada pela chuva.

O mês é fevereiro, o ano 1989, a festa de São Sebastião está as portas para acontecer, pois terminada a Festa da Luz em Guarabira, os comerciantes andarilhos, que ganham a vida com esse tipo de comércio, começam a desembarcar na cidade de Araçagi.

Tempo de festa é tempo das casas de tecidos ficarem cheias, a de seu Abel era uma dessas. Os mais afortunados buscavam o cetim, linho ou ceda, já os menos, a boa chita resolvia, era tempo de roupa nova.

As famílias vinham do Rio de Janeiro, São Paulo e de outros Estados para rever a terrinha amada, os familiares e amigos, mas também reviver tempos pretéritos e curtir a festa.

Eis que chega o dia e ela começa. As ruas estão abarrotadas com os parques de João Benício e os de Bajola, Lá está a canoa, a roda gigante, o mexicano em que o povo parecia voar e o trenzinho, elas exalavam a Gellus, Charisma, Toque de Amor, Cashmere Bouquet e Topázio, Alfazema, Madeira e Alma de Flores, os adeptos do Leite de Rosas não ficavam para trás.

As famílias que tinham um porte financeiro baixo não apresentavam condições  para curtir a festa no pavilhão, mas quem se importava com isso? Lá estava o Parque Roberto Marinho com seu Big Som, entrada grátis. Ainda havia as barracas de bebidas com a tradicional gelada, o sabor era por conta do cliente, o pior que o líquido era gelado mesmo, trincava os dentes, além disso tinha cerveja e cachaça. Não podemos esquecer das pessoas que vendiam maçã do amor, batata frita, churrasco de queijo, linguiça, carne ou frango, o cheiro despontava ao longe.

O pavilhão estava lotado de famílias com certo poder aquisitivo, em cima das mesas, triunfante  estava o Dreher ou o importado professor. A calçada do comércio de seu Aderbal era o grande palco das bandas Terríveis, Tuaregues, Tentáculos, Boca Loka, Raio do Sol, entre outras. Certa hora, na pausa das atrações musicais, lá estava o galeto: “dou-lhe uma! Dou-lhe duas! Dou-lhe três”, lá se vai mais um tira gosto. Mesmo magrinho, o aperitivo poderia ser arrematado por um uma boa quantia em dinheiro, era mais uma diversão dos que possuíam boas cifras. Lá estava eu, do lado de fora da casa de espetáculos, tomando minha gelada, já meus pais preferiram refrigerante, porém observando tudo.

Voltando para casa, depois de olhar a festa, de ter enchido o bucho de gelada, a certa hora da noite, algo me chamou atenção: por que todos falavam nas “primas”?  Nestes dias de festa observei que o estádio Benjamim Rosas parecia local de pagamento de promessas, pois velas e mais velas se faziam enfileiradas, porém só descobri o real motivo daquelas benditas velas, quando alcancei a maior idade.

Recordo de um tempo de festa sadia, penso que assim seria, hoje, com a desvinculação da festa religiosa da festa de rua, sou adepto defensor que permaneça assim, mas isso são cenas dos próximos capítulos.

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