Alan SantosColunistas 01

Por Alan Santos: Que a festa permaneça desconexa da Festa

“Recordo de um tempo de festa sadia, penso que assim seria, hoje. Com a desvinculação da festa religiosa da festa de rua, sou adepto defensor que permaneça assim”. Assim terminei o texto A festa, o pavilhão e o galeto, sou ferrenho defensor de uma festa desconexa da Festa.

Como outrora, não existe mais festa sadia. No pretérito ficaram boas lembranças, diante disso é necessário termos consciência daquilo que professamos para defendermos com consciência.

Após passar por diversas festas e Festas, pude perceber que a Festa em Araçagi cresceu com a desvinculação da festa e vou dizer porque.

Outrora, por mais tradicional que fosse, não tínhamos identidade. Como que pedinte, ficávamos a beira do caminho, na dependência do tempo e de um mês, a procura de um dia para lhe chamar de seu. Após a Festa de Nossa Senhora da Luz no comecinho de Fevereiro, Araçagi procurava, como que uma agulha no palheiro, um dia para festejar o seu Santo Padroeiro e o poder público fazer a tradicional festa, juntos e misturados, assim estava.

A festa era grande? Sim. Atraia multidões? Sim. Mas alguém estava perdendo. Como que no jogo dos 7×1, a parte religiosa, a Festa propriamente dita, vinha no decorrer do tempo ficando para trás. Templo esvaziado, povo sem sentindo, Santo em segundo plano. O religioso estava perdendo sentido, as pessoas buscavam não mais a Igreja, mas a festa de rua com suas diversas atrações.

É fato que, quando Araçagi se tornou Paróquia em 1995, Padre Mauro José, sua primeiro Pároco, ainda realizou a Festa de São Sebastião no seu dia propriamente dito, 20 de janeiro, porém, o poder público falou mais alto e, em 1996 tudo voltou para a estaca zero.

Já em 2011, o Padre João Bosco Francisco do Nascimento, em comum acordo com os líderes comunitários, grupos e movimentos religiosos, realizaram mais uma vez a mudança na data da Festa, não mais encerrando em 20 de janeiro, mas todo quarto domingo do mês. O poder público, dessa vez, não se sobrepôs a Igreja, assim, se desenhava ali o crescimento da Festa. Até relutei, com a mudança, contudo fui vencido e, hoje reconheço que estava errado, muito errado.

Com a Festa em Janeiro desvinculada da festa de Fevereiro, a Igreja ganhou de 7×1, as comunidades tem mais vez e voz, os grupos e movimentos religiosos estão mais organizados, juntam-se para celebrar o martírio de São Sebastião. Agarraram a oportunidade de mostrar que a Igreja e seus preceitos formam uma comunidade viva que depende unicamente de seu Mestre e Senhor.

Hoje já são 13 anos de Festa, a Igreja em Araçagi se tornou cheia, fé sempre renovada, comunidades ativas a cada ano que se celebra o seu Padroeiro São Sebastião. Acabou-se a frieza, a dependência, a busca por algo que não tinha sentido.

Diante disso, sou defensor da festa desconexa da Festa, não devemos misturar as coisas, não cabe mais a essa altura do campeonato misturar água e óleo, uma coisa não tem nada haver com a outra. A Festa deve ser sempre bem preparada, organizada, festejada, linda como deve ser, essa sim, deve ter a nossa preocupação como católicos, paroquianos araçagienses, pois é dela que a nossa cidade nasceu, é necessário ter raízes, do contrário seremos feito “caniço jogado ao vento”.

A festa de rua deve haver? Sim. Claro que sim. Com ela, tanto o grande quanto o pequeno empreendedor ganha, porém deixa ela com o poder público, que seja dentro do mês tradicional e sem atrelamento ao nome do Santo, as tradições são distintas. Cabe ao poder público, seja quem for que esteja a frente, tomar consciência que, uma vez separada, tentar fortalecê-la, trabalhar a marca, vender o produto e não, tentar atrelar ao que é religioso, como também, o padre, seja ele quem for que esteja administrando a paróquia, tomar para si também a consciência de que, a sua principal preocupação é com os cuidados religiosos e o pastoreio do povo.

Se não defendermos o que é nosso, quem vai defender?

Compartilhe este conteúdo!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *